Por Jony Wolff | 09 de Abril de 2025
Show Image
Por Onde Começar? Talvez Pelo Dia em Que Quase Perdi 5 Mil Para “Minha Própria Voz”
Confesso que nunca imaginei que chegaria o dia em que ouviria minha própria voz me pedindo dinheiro. E não, não foi uma gravação antiga ou minha consciência me cobrando por aquela extravagância desnecessária na loja de eletrônicos.
Foi algo muito mais sinistro: era eu, mas não era eu.

Semana passada, meu irmão (que também já passou dos sessenta, diga-se de passagem) recebeu uma ligação urgente. Era “minha voz” dizendo que eu havia sofrido um acidente e precisava de 5 mil reais para um procedimento médico urgente. Por sorte, ele desconfiou e me ligou diretamente — provavelmente lembrando de todas as vezes que lhe falei sobre esses “golpes modernos” durante nossos cafés de domingo.
E é sobre isso que quero conversar hoje: como a Inteligência Artificial está transformando a cibersegurança em algo que nem os escritores de ficção científica da nossa juventude conseguiriam imaginar.
A Nova Era de Ameaças: Não É Mais Aquele Príncipe Nigeriano Com Problemas de Português
Lembra quando era fácil identificar uma tentativa de golpe? Aqueles e-mails cheios de erros de português, oferecendo heranças milionárias ou prêmios impensáveis? Costumávamos rir desses golpes, pensando: “quem cairia nisso?”
Pois bem, os tempos mudaram. E não é só porque nós ficamos mais velhos (embora também).
A IA transformou completamente o jogo da cibersegurança. É como se tivéssemos aprendido a nos proteger de ladrões com gazuas, e de repente eles aparecessem com tecnologia de teletransporte diretamente para dentro do nosso cofre.
Como a IA Está Sofisticando as Ameaças Digitais
Assim como nossas juntas que já não são as mesmas, as ameaças digitais também evoluíram com o tempo. A diferença é que, enquanto nosso joelho apenas range ao subir escadas, as ameaças cibernéticas ganharam superpoderes:
- Malwares com PhD: Programas maliciosos que agora “estudaram” seu comportamento online e sabem exatamente como enganá-lo
- Phishing com mestrado em psicologia: E-mails e mensagens tão personalizados que parecem ter sido escritos pelo seu melhor amigo
- Deepfakes dignos de Oscar: Vídeos e áudios falsos tão convincentes que até sua esposa de 35 anos de casamento teria dificuldade em identificar
Esses criminosos virtuais usam a IA para criar ataques precisamente moldados para cada vítima. É como ter um alfaiate do crime digital confeccionando golpes sob medida.
A Ciência Por Trás Dos Golpes Modernos (Ou: Como Dormi Durante a Aula de Tecnologia e Agora Estou Pagando Por Isso)
Sempre pensei que minha resistência à tecnologia fosse apenas uma preferência pessoal inofensiva. “Para que tantos aplicativos?”, eu dizia. “No meu tempo, resolvíamos tudo com uma boa conversa cara a cara.”
O problema é que os criminosos digitais não receberam esse memorando. Eles estão usando o que há de mais avançado na tecnologia para nos atingir.
A Sofisticação do Phishing Moderno
O phishing não é mais aquele e-mail genérico informando que você ganhou um iPhone. É uma operação de inteligência digna de filmes de espionagem:
- Hiper-personalização: A IA analisa seus posts no Facebook, seus comentários no Instagram, e até mesmo suas avaliações online para criar mensagens que parecem legítimas
- Perfeição linguística: Nada de erros gramaticais. As mensagens agora são impecáveis, como se tivessem sido escritas por aquele professor de português que nos aterrorizava na escola
- Exploração psicológica: Os golpistas sabem exatamente quais botões emocionais apertar. Medo de perder dinheiro? Preocupação com os filhos? Ansiedade sobre saúde? Eles têm uma mensagem para cada vulnerabilidade emocional
Aquele sobrinho que sempre chamamos para resolver problemas no computador não é mais suficiente para nos proteger. Precisamos de uma nova abordagem.
Deepfakes e Clonagem de Voz: Quando Não Podemos Mais Confiar Nem em Nossos Próprios Sentidos
Já me peguei pensando se estou ficando paranóico. Semana passada, recebi um vídeo do “presidente” anunciando uma nova lei que parecia absurda demais para ser verdade.
E sabe de uma coisa? Não era verdade.
Como Funcionam Esses “Fantasmas Digitais”
A tecnologia por trás da clonagem de voz e vídeos falsos é assustadoramente simples para quem tem acesso às ferramentas certas:
- Coleta de dados: Poucos segundos da sua voz em qualquer vídeo público são suficientes
- Processamento por IA: Algoritmos avançados analisam padrões de fala e expressões faciais
- Síntese: Uma voz ou vídeo artificiais são criados, podendo dizer qualquer coisa que o criminoso desejar
É como ter um sósia digital que pode ser manipulado para dizer ou fazer qualquer coisa. Assustador, não?
Como Este Velho Lobo Se Protege (E Você Também Pode)
Depois de quase ver meu irmão perder dinheiro com minha “própria voz”, decidi que era hora de parar de agir como se a tecnologia fosse passar por mim sem me afetar. Assim como aprendi a proteger minha casa com alarmes modernos (depois daquele incidente em 2022 que prefiro não comentar), precisei aprender a me proteger digitalmente.
Minhas Novas Regras de Sobrevivência Digital
- A regra da verificação cruzada: Qualquer mensagem ou ligação urgente envolvendo dinheiro merece uma verificação por outro canal. Recebeu uma mensagem no WhatsApp? Ligue para a pessoa.
- Protocolo de palavras secretas: Estabeleci com minha família palavras-código que usamos para confirmar nossa identidade em situações urgentes. Antiquado? Talvez. Eficaz? Absolutamente.
- A atualização sagrada: Aprendi (a duras penas) que atualizar sistemas e aplicativos não é opcional. É como trocar o óleo do carro — ignorar só leva a problemas maiores.
- Autenticação em duas etapas para tudo: Sim, é inconveniente receber um código no celular para cada login. Sabe o que é mais inconveniente? Ter sua conta bancária esvaziada num domingo à noite.
- Ceticismo saudável: Aquela desconfiança natural que desenvolvemos com a idade? É uma superpotência na era digital. Use-a sabiamente.
Um Apelo Final: Não Deixe a Idade Ser Desculpa Para a Vulnerabilidade
Pertencemos a uma geração que viu o mundo mudar drasticamente. Crescemos discando telefones com o dedo, pesquisando em enciclopédias físicas e enviando cartas que demoravam dias para chegar. Agora, vivemos em um mundo onde nosso próprio rosto e voz podem ser usados contra nós.
Mas também somos a geração que se adaptou a mais mudanças do que qualquer outra. Sobrevivemos às calças boca de sino, à inflação galopante e aos penteados questionáveis dos anos 80. Podemos certamente aprender a navegar com segurança neste novo mundo digital.
Não se trata apenas de tecnologia — trata-se de sabedoria aplicada a um novo contexto.
E, se há algo que temos de sobra depois de cinco décadas neste planeta, é sabedoria. Vamos usá-la para nos proteger e proteger aqueles que amamos nesta nova fronteira digital.
Este artigo faz parte do nosso pilar de conteúdo “Tecnologia para a Vida Madura” no blog Encontro das Letras. Se você gostou, compartilhe com aquele amigo que ainda usa a mesma senha desde 1999 e inscreva-se para receber mais dicas de segurança com uma pitada de realismo e bom humor.
Fonte: Experiência pessoal e Manual de Cibersegurança na Era da IA, Abril 2025