Ansiedade em ‘O Apanhador no Campo de Centeio’: Paralelos com a Juventude Atual

Introdução

A ansiedade é um tema cada vez mais relevante na vida dos jovens, especialmente no século XXI. Curiosamente, essa questão já era abordada em clássicos literários como “O Apanhador no Campo de Centeio”, escrito por J.D. Salinger em 1951. Neste artigo, vamos explorar a ansiedade de Holden Caulfield, o protagonista do romance, e traçar paralelos com a ansiedade dos jovens atualmente, destacando as causas e os impactos de cada época.

Histórico e Social de Holden Caulfield

“O Apanhador no Campo de Centeio” se passa na década de 1950, uma época marcada pelo pós-guerra e pela conformidade social. Nova York, onde Holden passa seus dias após ser expulso de uma escola preparatória, é uma cidade vibrante e caótica, intensificando seus sentimentos de isolamento e ansiedade. A sociedade da época valorizava a conformidade e a estabilidade, colocando pressão sobre os jovens para se adequarem às normas sociais rígidas.

Holden Caulfield é um adolescente de 16 anos que vive em um ambiente familiar disfuncional. Ele sente que seus pais não o entendem e que estão mais preocupados com a aparência social do que com seu bem-estar emocional. A morte de seu irmão mais novo, Allie, um evento traumático que ele nunca conseguiu superar, agrava ainda mais sua ansiedade e depressão. Holden foi expulso de várias escolas preparatórias, incluindo Pencey Prep, onde a história começa. Ele se sente alienado e incompreendido pelos colegas e professores, descrevendo muitos deles como “falsos” e “superficiais”.

A Ansiedade de Holden Caulfield

A ansiedade de Holden é multifacetada e profundamente enraizada em suas experiências pessoais. A morte de Allie é um dos fatores mais significativos, criando uma lacuna emocional que ele não consegue preencher. Holden frequentemente pensa em Allie e carrega consigo a luva de beisebol de Allie, coberta de poemas, como uma lembrança constante.

Holden também enfrenta uma ansiedade intensa relacionada ao seu futuro e à transição para a vida adulta. Ele teme se tornar um adulto “falso” e superficial, como aqueles que ele critica constantemente. Esse medo se manifesta em seu comportamento errático e na sua incapacidade de se ajustar às normas sociais e escolares. Um aparte: quando li o livro, também eu era adolescente, mas, de longe não sabia o que ansiedade era, principalmente porque na minha casa não se fazia psicoterapia nem se falava de emoção.

A Ansiedade dos Jovens no Século XXI

No século XXI, a ansiedade entre os jovens aumentou significativamente, impulsionada por fatores modernos como redes sociais, pressão acadêmica e instabilidade econômica. A exposição constante a mídias sociais pode amplificar sentimentos de inadequação e ansiedade, pois os jovens estão frequentemente comparando suas vidas com as imagens idealizadas que veem online. Além disso, a pressão para atingir altos desempenhos acadêmicos e profissionais, aliada a uma economia instável, contribui significativamente para o aumento dos níveis de ansiedade.

Um estudo recente publicado no Journal of Adolescent Health em 2023 revelou que a ansiedade é significativamente mais prevalente entre jovens do sexo feminino e está fortemente associada a relacionamentos insatisfatórios com familiares, amigos e colegas. Fatores como insônia, falta de atividade física e preocupação com o futuro também foram encontrados como influenciadores importantes no desenvolvimento de quadros de ansiedade. O estudo destacou que os estudantes da área da saúde, especialmente de fisioterapia, apresentaram níveis de ansiedade significativamente mais altos do que os estudantes de outras áreas e da população em geral.

Outro estudo no mesmo jornal focou no aumento significativo da ansiedade entre jovens devido ao uso excessivo de redes sociais, pressão acadêmica e instabilidade econômica. A pesquisa mostrou que a exposição constante a mídias sociais amplifica sentimentos de inadequação e ansiedade entre os jovens. A pressão para alcançar altos desempenhos acadêmicos e profissionais, combinada com uma economia instável, contribui para níveis elevados de ansiedade.

Caro leitora(or), você, por vezes, se vê no personagem do livro ou nos jovens da atualidade?

Paralelelo Entre Holden e os Jovens Modernos

A comparação dos sintomas de ansiedade de Holden com os sintomas comuns nos jovens de hoje revela tanto semelhanças quanto diferenças. Assim como Holden, os jovens modernos sentem uma desconexão com a sociedade e enfrentam pressões significativas em relação ao seu futuro. No entanto, a amplificação da ansiedade através das redes sociais e a pressão acadêmica intensa são fatores mais pronunciados no contexto atual.

Os jovens modernos podem se identificar com a sensação de Holden de estar perdido e desconectado. Sua luta com a ansiedade e a busca por uma identidade autêntica são experiências universais que ressoam até hoje. Através de Holden, os leitores podem encontrar um reflexo de suas próprias lutas e uma compreensão mais profunda de suas emoções.

Lições de Holden para os Jovens de Hoje

A história de Holden Caulfield oferece lições valiosas para os jovens de hoje. Em primeiro lugar, destaca a importância de reconhecer e falar sobre a ansiedade. Holden frequentemente reprime seus sentimentos, o que agrava sua condição. Os jovens modernos podem aprender com isso e buscar ajuda quando necessário.

Além disso, a história de Holden sublinha a necessidade de encontrar conexões genuínas. Em um mundo dominado por interações superficiais nas redes sociais, é crucial cultivar relacionamentos autênticos que proporcionem apoio emocional.

Conclusão

A ansiedade de Holden Caulfield em “O Apanhador no Campo de Centeio” e a ansiedade dos jovens no século XXI compartilham raízes comuns, mas também refletem as mudanças na sociedade ao longo do tempo. Ao explorar essas conexões, podemos entender melhor as causas e os impactos da ansiedade, oferecendo uma base para desenvolver estratégias eficazes para enfrentar essa condição na juventude moderna. A literatura, assim, torna-se uma ferramenta poderosa para refletir sobre as lutas do coração humano e buscar caminhos para superá-las.’

Creio que esse tema — ansiedade — deve ser incorporado nas discussões entre os professores do ensino médio e nas reuniões de pais e mestres. Ansiedade, corre paralelo com a depressão, doença que cresce de modo assustador no cenário presente. Diferente do passado, como na época do livro em questão, falar, ouvir e discutir sobre nossas emoções é fundamental. Mais ainda dar importância aos sentimentos e emoções.

Publicado por jony1818

Sou storyteller, psicodramatista e triatleta

Deixe um comentário